Gringos no Brasil | Olhares sobre o racismo por Juan Felipe Manchola, Rachel Saudek e Laura Garcia
Sou um colombiano comum de classe média que não tem experimentado uma situação de racismo, mesmo se eu vi muitos casos na minha cidade Cali, onde quase o 80% da população é negra. Onde algumas discotecas não deixam entrar pessoas pretas, ou onde as pessoas mudam de meio-fio, somente porque uma delas estão caminhando ao lado. Também tem o preconceito de que todas as pessoas negras são bandidos. Acho todas essas ideias erradas, onde os “negros” são pessoas de segunda classe, onde tudo o ruim de uma sociedade é culpa deles, devido a que não tem fundamento, devido a que todo ser humano biologicamente tem a capacidade de fazer qualquer coisa e não devem existir pessoas de primeira e segunda categoria. Todos somos de uma mesma raça, a raça humana. No momento estou morando em Salvador, Bahia a qual acho semelhante de Cali em questão de porcentagem de pessoas pretas, mas eu não vi casos de racismo, e sento que é uma sociedade mais aberta enquanto a pensamento, mesmo se percebe uma atmosfera de racismo na comunidade.
Para mim tem sido interessante chegar aqui no Brasil, um pais que tem uma história parecida com meu pais, os Estados Unidos, na questão do racismo que é o legado da colonização e a escravidão. Os dois países têm muita diversidade, e ainda mais com o problema fortíssimo do racismo. Enquanto que continua sendo muito forte o racismo, uma coisa que me impressiona aqui na Bahia é a resiliência e resistência do povo negro. Eu vejo que essa resiliência vem através da arte e a música, que é a expressão da cultura, do orgulho, e das tradições negros. Eu acho impressionante a força que tem a arte para mudar opiniões do público e fazer parte da luta pela igualdade.
Eu venho de um pais onde o governo afirma que a discriminação racial foi eliminada por medidas de igualdade social. Esse discurso vem se repetindo pelos últimos 60 anos; mas é a realidade bem assim? Cuba e uma mistura de raízes com uma grande população descendente de africanos. O racismo foi disseminado primeiro durante o colonialismo e posteriormente através do sistema de classes sócias que dividia o poder na ilha. Com a chegada do socialismo, a construção do “homem novo” não dava lugar a discriminação por diferencias de cor da pele. Mas esta premissa estava sendo construída sobre uma base impregnada de racismo e preconceito. Minha vivencia em Cuba está sem dúvida marcada pela cor da minha que muitas vezes enfrentou o julgamento de pessoas preconceituosas. Contudo, meu cabelo crespo e minha pele mestiça nunca foram um obstáculo para ter as mesmas oportunidades que meus colegas de peles brancas. No fundo, meu pais é uma ilha cheia de contradições. A existência do racismo numa sociedade igualitária é um dos paradoxos de Cuba que tem permanecido silenciado pela vanguarda de uma identidade nacional.
Como é a situação de racismo no seu pais/ na sua cidade?
Aqui na minha cidade, Distrito Federal, percebemos o racismo de forma muito implícita. Quando vou a um restaurante, ou ao shopping, vejo que as pessoas que trabalham na limpeza são quase sempre negras, enquanto que os frequentadores são na sua maioria brancos. A discriminação acontece, mas ela é velada. Vez ou outra vemos uma notícia sobre um caso de racismo, com xingamentos, humilhações verbalizadas. No Brasil, isso é considerado crime e, aos poucos, as pessoas estão mudando a forma como vêem o próximo, pois todos temos direitos iguais, direito de sermos tratados com dignidade e respeito.
É marcante como os países que sofreram a colonização europeia na América Latina têm realidades muito semelhantes. Aqui em Salvador, apesar do movimento negro ser bem forte e organizado, sinto que grande parte da população não se reconhece por suas origens africanas, muitas vezes até negando a própria identidade. Sinto que isso prejudica o fortalecimento do povo negro e favorece a expressão do racismo em outras modalidades, como nas instituições que oferecem serviços ao público, tanto particulares quanto às que pertencem ao Estado: comércio, educação, atendimento à saúde, etc.
Salvador é considerada a cidade mais negra do mundo, fora da África, mas mesmo assim a presença do racismo é muito forte.
Devemos nos atentar para o racismo institucional, e como ele se manifesta nas estruturas de organização da sociedade e nas instituições. A exemplo disso temos as instâncias de poder: Salvador, mesmo sendo uma cidade com a maioria da população negra, nunca elegeu um prefeito negro.
Conseguimos contar nos dedos a quantidade de professores na universidade que são negros (apesar desse cenário está em mudança), a morte de jovens negros é extremamente alta, assim como a criminalidade que é resultado da falta de oportunidades para a população negra. Poderia citar mais fatos para exemplificar a situação do racismo em Salvador, cidade em que a cultura africana é bem forte e bem presente, mas mesmo assim precisa de mais conscientização quando falamos em racismo, assim como o Brasil todo.
Olá, sou de Salvador/Bahia. Aqui, realmente, é incomum ver casos de racismo verbalizados, acredito que isso seja uma realidade do Brasil, pois existe uma lei que criminaliza esse tipo de atuação, porém o racismo existe e é devastador. Ele se apresenta de forma velada e é fácil notá-lo, por exemplo, nas estatísticas de homicídios. A Bahia é o estado que tem o índice mais elevado, em números absolutos, de negros assassinados no país e em 10 anos o número de negros assassinados na Bahia cresceu 118%, são 52,4 negros mortos contra 15,6 não negros, a cada 100 mil habitantes.
Por que as taxas de homicídios de negros na Bahia é 3 vezes superior à de não negros? Será que não há racismo em Salvador? Sim, há racismo em Salvador, há racismo na Bahia e há racismo no Brasil. Ainda que tenhamos a presença resiliente e resistente da cultura e tradição negra, não se faz suficiente. O que, realmente, é preciso são políticas públicas que se interessem em resolver esse problema, em reeducar a população, em mostrar que não é justo um jovem negro já apresentar um alvo em seu peito e dele serem tiradas as oportunidades desde cedo, em mostrar que negro é gente como todo mundo e merece o amparo do Estado.
Salvador é considerada a cidade mais negra do mundo, fora da África, mas mesmo assim a presença do racismo é muito forte.
Devemos nos atentar para o racismo institucional, e como ele se manifesta nas estruturas de organização da sociedade e nas instituições. O exemplo disso têm as instâncias de poder: Salvador, mesmo sendo uma cidade com a maioria da população negra, nunca elegeu um prefeito negro.
Conseguimos contar nos dedos a quantidade de professores na universidade que são negros (apesar desse cenário está em mudança), a morte de jovens negros é extremamente alta, assim como a criminalidade que é resultada da falta de oportunidades para a população negra. Poderia citar mais fatos para exemplificar a situação do racismo em Salvador, cidade em que a cultura africana é bem forte, e bem presente, mas mesmo assim precisa de mais conscientização quando falamos em racismo, assim como o Brasil todo.
Olá!
Primeiramente, parabéns pelo texto. É muito interessante poder, através do olhar de vocês, conhecer um pouco da realidade dos seus países de origem. O que chamou minha atenção ao ler esse texto foi perceber como o racismo age e afeta de forma semelhante nos quatro países. Aqui no Brasil existe também uma política de fingir que o racismo não existe, uma falsa celebração da diversidade quando, na realidade, o que vivenciamos é a não aceitação das diferenças e a marginalização do povo preto e da sua cultura. O movimento negro tem conquistado importantes avanços na luta contra a discriminação que inclui, entre outras coisas, o esforço de recuperar a história, cultura, as origens do povo preto. Aqui em Salvador, por ser a capital mais negra do Brasil,talvez seja mais fácil observar esse movimento de preservação e valorização da identidade e cultura afrobrasileira, mas infelizmente ainda temos muita coisa pra melhorar aqui é no resto do país, principalmente no que diz respeito à garantia de direitos básico para a população. Existe um longo caminho pela frente, mas a luta continua.